O psiquiatra Rubens Coura afirma que a paixão só traz infelicidade e defende que o problema seja tratado no divã e com a ajuda de remédios.
Isto É - O que é paixão?
Coura - É um arrebatamento, de mal conhecer o outro e idolatrá-lo, sem limite, sem condição alguma. A paixão é solitária. Ela vem antes do outro.
Isto É - Ela pode se transformar em amor?
Coura - Muito dificilmente. Isso é raro acontecer.
Isto É - E o amor?
Coura - O amor não é instantâneo e brutal como a paixão. É sempre bilateral e se desenvolve com contato, admiração pelas qualidades, perdão pelos defeitos. Quando duas pessoas se amam, costumam alargar o círculo de amigos, de interesses. Elas evoluem em suas profissões, estudam mais. Na paixão, não. Só querem um ao outro.
Isto É - Todos se apaixonam um dia?
Coura - Em algum grau, sim. Nem todos têm a paixão devastadora nem o azar de ser correspondido. O amor correspondido é uma maravilha, mas a paixão é um desastre. Ela é quase uma loucura.
Isto É - É sempre doença?
Coura - Sim, porque não conta com o outro, quer controlá-lo. O apaixonado idealiza uma pessoa violentamente e descobre uma vítima para moldá-la para aquilo que já está pronto dentro de si.
Isto É - Como a família deve reagir?
Coura - Ela não pode contrariar, falar mal. Contrariar aguça a paixão.
Isto É - E como deve agir o objeto da paixão?
Coura - Não mostrar desprezo ou brincadeira. E também não abusar da pessoa. Deve ter uma atitude compreensiva, respeitosa e procurar ficar longe. Se a pessoa não está apaixonada, por que transar?
Isto É - É possível amar sem nunca se apaixonar?
Coura - É difícil. A paixão é uma dor psíquica de crescimento.
Isto É - Quais os sinais de que a paixão está grave?
Coura - O apaixonado não percebe, mas os próximos falam. Vêem que ele não está mais estudando, mal se alimenta ou come sem parar, não dorme direito e o assunto é o objeto da paixão.
Isto É - Há mais incidência entre o homem ou a mulher?
Coura - O dois são acometidos.
Isto É - O sr. compara a paixão com alguma outra doença?
Coura - Acho que pessoas que se apaixonam a toda hora e não conseguem passar desse estágio são como alcoólatra. Ele bebe, sabe que está errado, todos sofrem, ele sofre e não consegue evitar a bebida.
Entrevistado pela revista Isto É, em abril de 2000.
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