Por :Fabrício Carpinejar
Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras sabem.
Nunca houve tanta reconciliação. Mais do que casamento e divórcio.
A reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que se converteu à lei. O amor bêbado que largou o álcool. O amor drogado que fugiu dos vícios.
A reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da perseguição dos defeitos e da distorção das conversas.
É o amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da maldade da sinceridade, depois da carência.
Casais que se prometeram o inferno, que disputaram a guarda na Justiça, que enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a morar junto, para temor dos vizinhos, para o susto da parentada.
A reconciliação é uma moda entre os divorciados.
Mal se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas os mesmos parceiros são outros. Outros novos.
A distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança.
Eles experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma idealização.
Enfrentaram relacionamentos diferentes, exageros e excessos, contemporizaram os medos e as rejeições, provaram de frustrações amorosas.
Viram que o príncipe se vestia mal, e o sapo coaxava bonito.
Viram que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e ponto.
Este amor provisório, inconstante, inacabado e vivo.
Este amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as lágrimas.
Quem era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento.
A trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no dia-a-dia aquilo que não admitia fazer e que o outro recomendava.
O que soava como crítica antigamente passa a ser conselho.
Gordos emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria.
A saudade era um recalque e se transforma em sabedoria.
O par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente.
Durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência.
A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da discórdia.
Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e esquecem as falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o entendimento.
A reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de brigar por besteiras e intrigas.
O amor que é mão dada entre o erro e o perdão. Mas que agora pretende envelhecer de mãos dadas para sempre.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 17/03/2013 Edição N° 17374
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