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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

AMOR E LOUCURA

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                                         AMOR   E  LOUCURA

     Por Sonia Regina Lyra


O amor pertence ao enigma e o enigma à loucura. 
A loucura é maya, ilusão. Maya representa perigo, dificuldade, confusão. Maya é também o lugar da travessia, necessária e única para o encontro do indivíduo consigo mesmo, para o Real. 
Uma realidade do mundo interno ao ser projetada no mundo externo passa a chamar-se maya. Portanto, se permanecer em seu lugar, que é o mundo interno da psique, maya é o Real. Amor ou éros o atirador de flechas, é também o provocador da loucura.

“Se não compreendermos o nexo rigoroso entre a Loucura e o Amor, se não compreendermos que o Amor, como intuiu Platão, é a forma mais elevada da loucura, não compreenderemos porque, de Chenofonte a Shakespeare, o drama de Romeu e Julieta volta sempre na literatura ocidental como uma onda que, avançando e retraindo-se, traça com a sua cadência e com o seu ritmo a paisagem que nós ocidentais conhecemos como paisagem do amor”.

     “O Amor não é uma coisa tranqüila, não é delicadeza, confidência, conforto. Amor não é compreensão, partilha, gentileza, respeito, paixão que toca a alma e contamina os corpos. Amor é tocar com a mão o limite do homem”.

     “Tais são as coisas do amor: “desejo da antiga unidade” diz Platão, que não é tanto unidade com o “outro”, porque antes deste “outro” que está fora de nós a quem se dirige o amor, o “outro” está intimamente em nós , como aquilo do qual fomos separados para dar origem à nossa história. Mas o fundamento não histórico do qual nossa alma tomou forma nos possui agora como trágico enigma... Não acredito que a humanidade atual esteja a altura da vivência do amor. 

O desejo de identidade e de segurança não nos permite mais sair dos limites do Eu para encontrar o Amor”.
     “Colocada entre o ego e o inconsciente, a alma abre caminho para Deus; ela torna a vida espiritual possível para o ser. Se transferida para os seus relacionamentos pessoais com outros seres humanos, ela os transforma em ilusões; ela dança o encantamento de Maya”.
     Ambos, Amor e Psique separados, anseiam um pelo outro e esperam por uma união eterna, que nada e nem ninguém possa separar.
     E assim, equivocados, quando vêem o fascínio do amor projetado, os humanos atiram-se uns nos braços dos outros, acreditando que ali está encerrado o Amor. O desejo ardente de possuí-lo, faz com que cada vez mais se afaste. O Amor é livre; é liberdade, não podemos possuí-lo. Jung diz:
“Se ao contrário não se é da opinião de que todo fascínio é prova inexorável da verdade, então se tem a possibilidade de ver o aspecto sexual e seu arrebatamento como apenas um dos lados do fenômeno, e justamente como o que mais obnubila o juízo. Este lado gostaria de entregar-nos a um tu, que parece consistir em todas as qualidades que não desenvolvemos em nós mesmos. Assim, pois, quem não quiser ser ludibriado por suas próprias ilusões, fará uma cuidadosa análise de cada fascínio e dela extrairá a quintessência, ou seja, um fragmento da própria personalidade; e, paulatinamente, vai descobrindo que, nos caminhos da vida, nos encontramos incessantemente conosco mesmos, sob mil disfarces diferentes. Isto é uma verdade que só é proveitosa na medida em que estivermos animados pela convicção da realidade individual e irredutível do outro”.

A tarefa do psicólogo surge então como a do cirurgião que separa/discrimina, retira e/ou busca transformar os tumores emocionais, nódulos da alma, e depois, trabalha para reunir as partes separadas até que delas restem apenas as cicatrizes. Jung nos diz ainda que a alma humana é um misto de amor “celeste e terrestre”. 

As ansiedades profundas de busca do amor do outro, trazem consigo o maior de todos os anseios: a união do ser consigo mesmo. Porém, qual a diferença entre a loucura do amor e um amor humano? Dizem os textos de sabedoria que para vivê-lo é preciso:
  1. Ser paciente. (é padecer, deixar que a vida aconteça)
  2. Cativar. (a gente só conhece bem as coisas que cativou, é preciso preparar o coração, é preciso ritos)
  3. Sentar-se. (assentar-se) (para que a impaciência se assente, a distração se dissipe e surja um crescer lento, coerente, constante, num vigor duradouro e cordial).
  4. Ter boa vontade. (centelha divina no humano; contém em si o mesmo modo de ser do Deus do Amor)
  5. Querer. (quem quer, não o faz por obrigação, pois querer indica o exercício do livre arbítrio humano, da liberdade)
O amor humano é algo simples.
“Não gostamos de algo que seja “simples”:     para nós “simples” significa 
monótono ,obtuso, ou estúpido. 
Nós nos esquecemos de que a simplicidade é uma necessidade da vida humana: é a arte de encontrar sentido e alegria nas coisas pequenas, naturais e corriqueiras. 
Se um relacionamento direto simples e espontâneo nos oferece felicidade, não o aceitamos. É “simples demais”, “monótono demais”. Estamos condicionados a respeitar apenas o que é exagerado e pomposo, o que é grande, complicado ou “altamente excitante”.

Temos poucos exemplos de amor humano. 
Quando genuinamente amamos outra pessoa, trata-se de um ato espontâneo de ser, um reconhecimento da outra pessoa que nos leva a valorizá-la e a honrá-la, que nos leva a desejar a felicidade e o bem dessa pessoa. 

Nesses raros momentos em que estamos amando, e não concentrados em nosso próprio ego, paramos de perguntar que sonhos vamos realizar através dessa pessoa, que vibrantes e extraordinárias aventuras ela nos irá proporcionar, e nos doamos, simplesmente.

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