Este trecho, comum a muitos contos de fadas, retrata bem este momento que as mulheres passam, cedo ou tarde, quando começam a olhar o ser amado com outros olhos (e é difícil gostarem do que vêem...): muitas das coisas que imaginavam que fazia parte daquela figura apaixonante começam a parecer gastas, pobres e sem vida.
E não é preciso estar casada há muito tempo, não, pois esta sensação súbita da passagem do tempo é interna, pode acontecer meses depois do início da relação, quando o véu da paixão já não mais cobre seus olhos. Pode levar mais tempo: fala-se em crise dos 7 anos de casamento, dos 15, dos 20 e poucos, quando o homem “quer trocar uma de 40 por 2 de 20...” e assim por diante.
Algumas mulheres demoram mais para acordar porque, às vezes, passaram metade do tempo tentando mudar seus parceiros, para tentar enquadrá-los na forma de príncipe encantado, obviamente sem sucesso! Não podemos responsabilizar o outro nem pelas mudanças, que são nossas, nem pela salvação do relacionamento, que só pode ser feito a dois.
Aquelas características que parecem ter sumido, na verdade estavam nas fantasias de perfeição da mulher, aspectos de um homem ideal, que ela diz não ser mais o mesmo... É o mesmo, sim, que sempre esteve lá: o homem real, que ela precisa começar a conhecer agora. Assim como precisa reconhecer que muitas coisas já mudaram e ela ou não quis ou não pôde perceber; por exemplo, que ela pode ter mudado, na maneira de encarar a vida, na vontade de ter um espaço mais individual, novos projetos ou outro tipo de realizações. Quantas delas não começam a trabalhar depois de cuidar da casa e dos filhos durante anos? Quantas delas voltam a estudar, ou simplesmente passam a se cuidar melhor, corpo e mente?
O final da história então é sempre término ou separação? Espero que não, embora ache que hoje é a primeira solução procurada. Aquela situação de não conseguir mais viver como antes, mas também não conseguir se separar é mais parecida com as mulheres que acham importante conservar o casamento, mesmo pagando caro.
Para que isto não se transforme num conflito insuportável ou crie um abismo que nenhum dos dois consiga transpor, é preciso haver consciência que o “para sempre” do amor não é estático, é preciso sempre “reinventar o amor”, como disse um poeta da música; construir algo novo sobre esta realidade possível que se instala como decepção.
Nada mais ilusório que pensar que amar é deixar tudo acontecer, sem esforço, ”adivinhando” o que o outro pensa, sente ou quer. Intimidade é diferente de familiaridade, e só nos tornamos íntimos daquilo que realmente conhecemos, sem as máscaras das expectativas exageradas. O jogo passa a ser mostrar as cartas, (inclusive aquelas guardadas na manga...), revelando-se e descobrindo-se, para que os dois possam sentir a maravilhosa sensação de ser aceito e amado pelo que se é!
Em um início de curso de Faculdade, uma professora colocou a seguinte questão: “a gente ama APESAR DE ou POR CAUSA DE?” As respostas das princesas ainda adormecidas e das mulheres maduras para o amor são diferentes. Qual é a sua?
Sonia Belotti
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