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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Quem ama, respeita.



Por :Betty Milan

Não há quem possa explicar o que é o amor. Talvez por isso, desde sempre, nós tentamos defini-lo. Procuramos fisgá-lo numa ou noutra definição. Como se ele fosse um peixe. Mas ele não é um peixe. Só o que podemos é falar sobre o amor, girar delicadamente à sua volta, acariciá-lo. Aliás, sempre que se trata de amor, a delicadeza é essencial, o respeito. Isso é claro no mito grego de Eros e Psique, que eu aqui rememoro.



Psique é a mais jovem e a mais bonita das três filhas de um rei. Todos a admiram e a cultuam, esquecendo o culto de Vênus, que um dia resolve se vingar: chama Eros e pede a ele que faça Psique gostar do mais feio dos homens.
De tão impressionado com a beleza de Psique, Eros não obedece a Vênus. Deixa que o tempo passe e Psique não aceite nenhum dos pretendentes à sua volta. Preocupado com isso, o rei consulta o oráculo, que manda levar Psique para o alto de uma colina onde uma serpente a ela se unirá. Não há como desobedecer ao oráculo e, apesar do desespero, o pai abandona a filha. Mas Psique é salva pelo vento, por Zéfiro, que a transporta e a coloca no jardim de um palácio. À noite, surpreendentemente, o mais terno dos esposos a envolve. E assim acontece todas as noites. Só o que pede a Psique é que ela não veja o seu rosto.
Um dia, Psique vai visitar a família. Percebendo que ela está muito feliz, as irmãs insinuam que, nas trevas da Noite, ela se une a um monstro. Induzem Psique a olhar o rosto do esposo, que ela então ilumina durante seu sono com uma lâmpada a óleo. Em vez de um monstro é Eros que ela vê, o mais belo e o mais amável dos deuses. Encantada, aproxima-se, deixando cair uma gota de óleo quente em seu ombro. Eros acorda assustado e vai embora, furioso com a desconfiança.
O mito mostra que Psique perde o amado porque dele desconfia. Porque desrepeita o seu desejo. Isso permite deduzir uma regra geral: O amor tanto requer a confiança quanto o respeito. Por isso não é dado a todo mundo. Supõe qualidades sem as quais não vinga. Acima de tudo, exige a escuta. Se Psique tivesse escutado seu amado, não o teria perdido, não precisaria ir até o inferno antes de recuperar o esposo, como conta o final do mito.
O dize-me com quem andas e eu te direi quem és bem pode ser substituído por diga-me o quanto você é capaz de escutar e eu direi o quanto você é capaz de ser amado. O amor é um privilégio de quem escuta. De quem sabe acolher as palavras. Por sinal, o amor não existe sem elas. O célebre escritor francês La Rochefoucauld dizia que ninguém ama sem antes ter ouvido falar de amor. E como o amor continua sendo essencial, apesar da supervalorização do sexo, nós continuamos a falar e a escrever sobre ele.
Queira ou não, o amor move o sol e as estrelas, como dizia Dante. O amor pode muito, e o poeta por isso afirma que até o movimento dos astros dele depende. O movimento e, portanto, a luz — a do sol e também a das estrelas. O amor molda a nossa vida, tanto de dia quanto de noite. E ele não cega, ao contrário do que diz o adágio popular. Ou, se acaso nos cega, é para fazer ver cenários que só ele descortina, paisagens de sonho. Porque o amor nos faz enxergar com os olhos do coração, com dois olhos alados.


Este texto apareceu como "Eros, o deus do amor, só toca


quem sabe ouvir e respeitar"; Revista Caras, 1999

Um comentário:

Bloguinho da Zizi disse...

Rejane
o texto não chega completo, tudo à direita fico coberto pelas mensagens.
beijinho
zizi

Se desejas aprender mais sobre o amor, visite meu arquivo :

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