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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A arte de Amar







Por: Zwínglio Christopher




Algumas pessoas sempre me perguntam: o que fazer para encontrar a pessoa certa? “Será que algum dia eu encontrarei alguém certo para mim”, ou ainda, “por que meus relacionamentos nunca dão certos?” Escrevi esse artigo pensando naquelas pessoas solitárias que se perguntam porque não conseguem encontrar alguém certo para libertá-las dessa prisão que é a solidão, e não nas pessoas que estão desacompanhadas por escolha própria e que se sentem bem estando sós. Também pensei naquelas pessoas que passam de um relacionamento para outro e que não compreende o porquê de não conseguirem mantê-lo por mais tempo.



Conta a história sobre um lenhador que ao ir a busca de madeira em uma floresta um pouco mais densa, do que o de costume, encontrou uma mulher desacordada, com feridas como se tivesse sido atacada por algum animal feroz, debaixo de alguns arbustos. Pelo jeito, ela tinha se arrastado até aquele ponto para evitar que algum outro animal pudesse fazer algum mal. Estava desacordada e o lenhador a levou até a sua cabana. Ao chegar apressou-se em cuidar das feridas. Perguntou-lhe o que tinha acontecido, mas a mulher fez questão de não responder a pergunta. O lenhador então continuou a cuidar de suas feridas. Ao terminar, preparou-lhe algo para comer, colocou ao lado da cama e voltou a floresta para buscar madeira. Ao anoitecer, o lenhador chega e encontra a jovem mulher bem alimentada e se sentindo melhor. Novamente pergunta o que aconteceu e ela relata que ao tentar encurtar o caminho para sua casa por dentro da floresta encontrou um lobo que a atacou, só conseguiu afugentá-lo por ter acertado uma paulada em sua cabeça, o que o fez fugir. A jovem mulher então percebe que a mão do lenhador está ferida e pede que a deixe fazer um curativo. O lenhador permite, e a mulher, com todo o carinho que poderia ter, cuida da mão machucada daquele homem que, cansado do dia de trabalho, apenas a olhava. O lenhador se ofereceu para levá-la de volta para sua casa quando estivesse melhor, mas conta a história que a mulher nunca mais desejou ir embora daquela cabana.



As vidas das pessoas são modificadas profundamente pelos vínculos afetivos importantes. Muitas vezes esses vínculos agradáveis são fundamentais para evitar alguns problemas de cunho emocionais como a depressão. O contrário também se torna real. Pessoas com poucos vínculos afetivos tendem a terem mais chances de desenvolverem problemas emocionais.



Estou Só ou em Solidão?



Algumas vezes na vida nos deparamos com pessoas que se encontram desacompanhadas e que, no entanto, demonstram estarem muito bem emocionalmente, sempre alegres e confiantes. Qual será o segredo? Será que essa pessoa foi abençoada com o elixir da felicidade e que não precisa de um companheiro para estar feliz? O que acontece é que existe uma diferença básica entre estar só, sem namorado ou companheira, e entre o sentimento de solidão. Nos sentimos em solidão quando percebemos grande necessidade de estarmos nos relacionando com alguém, o qual atribuímos grande responsabilidade pela nossa felicidade. Ter sentimento de solidão ao longo da vida é algo natural afinal de contas o ser humano é um ser social que necessita de contatos interpessoais, e que em algum momento da vida se sentirá só. O problema surge quando o sentimento de solidão é constante, levando a pessoa a condicionar a própria felicidade ao fato de encontrar um companheiro. Acompanhado do sentimento de solidão freqüentemente se encontram elevadas expectativas acerca de um relacionamento perfeito com a pessoa ideal, cheia de qualidades, que irá tornar a vida de quem está só num “mar de rosas”. Os casais feitos um para o outro do filme ou da novela contribui em muito para a idéia de que todo mundo tem alguém a sua espera. Alguém que fará a sua vida mudar por completo. Mas ai se espera... se espera ... e não aparece ninguém. O sentimento de solidão aumenta e o desejo de encontrar a “alma gêmea” também. Muitas pessoas quando se encontram nessas situações acreditam que só conseguirão serem felizes quando não estiverem mais desacompanhadas. Já outras estão sozinhas e se sentem muito bem. O problema então está em estar só?



Áreas da vida a Auto-estima



Existem algumas áreas básicas da vida em que investimos nossa atenção, nossas energias e nossas emoções, são estas áreas: a profissional, a familiar, a física / saúde, a social (lazer), a da religiosidade e a área do relacionamento afetivo. Os relacionamentos afetivos fazem parte de apenas uma dessas áreas. Quando conseguimos distribuir nossas energias, atenções e preocupações de uma maneira equilibrada entre essas áreas as chances de depender apenas do “amor da vida” para ser feliz diminui, possibilitando com que a auto-estima aumente, melhorando o humor e, por conseqüência, melhorando o contato com as pessoas que estão a sua volta. Aquelas pessoas que demonstram boa auto-estima são vistas como mais atraentes pelas pessoas que as observam. Ou seja, buscar equilíbrio nas áreas da vida é positivo para um sentimento de melhor bem-estar e ainda melhora a imagem que as pessoas têm ao nosso respeito.



Saber cuidar



Saber cuida significa oferecer aquilo que a pessoa está necessitando no momento em que ela mais precisa. Cuidar das pessoas é uma arte que nem sempre é tão fácil como se parece. Exige, antes de tudo, muita sensibilidade para se colocar no lugar da outra pessoa e sentir o que realmente a pessoa precisa naquele momento. Engana-se aquela pessoa que pensa que o fato de viver ligando pro namorado ou marido, ou ainda, que viver tentando facilitar tudo o que a pessoa vai fazer, que está cuidando do outro. Para que o outro se sinta cuidado é fundamental que ele ache isso necessário. Imagine a esposa que liga para o marido sabendo que ele se encontrava no meio de uma reunião tensa a trabalho.



ESPOSA: [vou demonstrar o quanto sinto a falta dele] Oi amor, liguei só para dizer que te amo. [alegre]



MARIDO: [O que ela acha que estou fazendo. Que estou brincando?] Oi querida, não posso falar com você agora. Depois te ligo. [ríspido]



ESPOSA: [Como ele é insensível] Só queria dizer um oi. [chateada]



Por mais que ela pensasse estar demonstrando zelo pelo marido, esse tipo de preocupação não era adequado ao momento, em que questões muito importantes estavam sendo tomadas. Um erro muito constante é achar que a outra pessoa vai se sentir amada pelo fato disso ser dito para ela. Dizer que gostamos de alguém é apenas mais uma coisa que podemos fazer por ela. E quando isso é dito em um momento que ela não precisa ouvir, estamos manipulando-a indiscriminadamente por causa de nossas necessidades, e isso não é cuidar.

Retornando à história do lenhador e da jovem moça. Ao perguntar o que havia acontecido, a mulher não respondeu, então o lenhador calou-se a passou a cuidar dos ferimentos. Naquele momento era a única coisa que a jovem precisava. Ela não precisava de conversa e nem da demonstração de interesse pelo que lhe tinha acontecido. Ela apenas necessitava que suas mazelas fossem tratadas. Após ser cuidada com tanto zelo, a moça, percebendo que o lenhador havia se machucado, desejou retribuir-lhe o favor. É ai que entra um outro ponto importante no envolvimento a dois que é o deixar-se cuidar.



Deixar-se cuidar



Muitas pessoas se questionam por que estão sós, mesmo tendo sido companheiros tão cuidadosos e preocupados com o outro. Normalmente, acontece de alguns namorados ou maridos cuidarem tanto da companheira e, mesmo assim, esta acabar largando-o ou, até mesmo traindo-o. O que acontece também nesses casos é que geralmente estas pessoas são parceiros que raramente pedem ajuda ou que admitem suas inseguranças. Aparentemente, essas pessoas cuidam demais e não se permitem serem cuidadas. Para se fazer cuidar, é importante deixar que o outro note suas necessidades e que se sinta gratificado ao atendê-las. Da mesma forma que as pessoas gostam de receber cuidado e atenção, também sentem necessidade de retribuir o cuidado. O sentimento de reciprocidade é algo que é tido como fundamental num relacionamento. Uma tentativa frustrada de cuidar da outra pessoa pode acabar por diminuir o vínculo e a vontade oferecer o carinho tão necessário nos relacionamentos amorosos.

O lenhador soube cuidar e também soube permitir ser cuidado. Esses dois atos foram o bastante para que se criasse um vínculo entre aqueles dois indivíduos. Se ele não tivesse permitido ser cuidado, a jovem certamente continuaria grata, mas talvez não teria se formado uma relação de recíproco interesse entre eles.

No dia-a-dia, mostrar ao companheiro que ele pode estar ajudando em algo que precisa muito, e em que sentirá muita gratidão, funciona mais do que pedir as coisas em forma de imposição. Por exemplo, uma coisa seria a esposa que pede: “Vá fazer as comprar, pois aqui em casa não tem coisa alguma”. Outra coisa bem diferente seria: “Querido, estou preocupada com algumas coisas a fazer, se você pudesse fazer as comprar me deixaria muito aliviada, você faria isso por mim?”.



Variar é necessário



Um outro ponto importante para se sustentar um relacionamento é o saber variar. Variar não significa necessariamente fazer coisas extravagantes ou muito diferentes. Trata-se muitas vezes de fazer as coisas de forma diferente. Variar significa resistir ao que sempre deu certo. Se sempre pediu o mesmo prato num restaurante por ter achado ele mais gostoso da primeira vez, mude ao pedir um prato diferente. Algo que é muito bom quando cai na rotina acaba sempre por perder a graça.

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Seja lá qual for o tipo de envolvimento que você tenha com alguém, quanto mais você souber cuidar e se permitir cuidar mais vínculos sinceros você conseguirá formar. Quando falamos de relacionamento amoroso, o mais importante é você entrar em sintonia com a outra pessoa e conseguir perceber o que a pessoa precisa ou necessita e saber fazê-la perceber suas necessidade. Quem dominar essa arte do cuidado certamente usufruirá um pouco mais dos prazeres da vida a dois.



“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” (O pequeno príncipe, Exupéry).


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