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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Amor e paixão são atos revolucionários.





É impossível falarmos do nosso EU desvinculados de todo um contexto de afetividade, de sexualidade, de sociabilidade. Precisamos
perceber-nos integralmente, livres de uma percepção esquizofrênica. Somos dois lados, o de dentro e o de fora, os dois lados juntos, a soma
dos dois é a nossa IDENTIDADE (nosso EU).

Somos, certamente, arte inacabada. Inicialmente, o pincel que dá formas e cores ao nosso retrato está nas mãos dos adultos e vivemos muito
tempo, sem a possibilidade de nos autoretratarmos. Nosso desejo mais primário é o de SER AMADO, desejo insaciável de atenção, de
cuidado, de afeto, de ao menos um olhar que nos faça sentir mais vivos. Este ideal de ser notado e aceito, nos leva a correspondermos a uma
enorme soma de expectativas do outro; nos tornamos "bonzinhos" e obedientes. Somos sutilmente moldados em troca de estima condicionada.
Construímos identificações desde o inicio da nossa vida e quanto mais estivermos presos a essas identificações, mais afastados estaremos do
nosso próprio DESEJO (EU). O problema da identificação, é que internalizamos imagens e nos tornamos reflexo de outras pessoas; a
identificação dessa forma é sinônimo de alienação, pois a pessoa torna-se mais CÓPIA que ORIGINAL e extremamente dependente.
A primeira e a maior base das identificações é a família. Freud, concebia a família como "GRUPO DISCIPLINADOR" dos instintos
biologicamente fixos da criança, uma instituição repressora da ESPONTANEIDADE e do CRESCIMENTO CRIATIVO. É por isso, que
repetimos na vida adulta as irracionalidades adquiridas na família, porque temos uma grande dificuldade em transcendermos a experiência
infantil de repressão.
Ruben Alves, escreveu num texto "O Terror do Espelho", que " a experiência suprema de horror é quando diante do espelho, não vemos
rosto algum, apenas os rostos dos outros, os outros pedem que não sejamos o que somos, que sejamos só o que eles desejam. Só máscaras. E
ficamos sem rosto". Precisamos, urgentemente, mergulhar no íntimo dos nossos DESEJOS e emergirmos como realmente somos.
Qual de nós não se descobre todos os dias conversando quando está sozinho? É que somos mais de um. Nós temos em nosso interior um sócio
que nos habita e que muitas vezes desconhecemos, Esse outro, que nos torna "geneticamente sociais", é o nosso DESEJO. A construção
desse outro é, portanto, SUI GENERIS para cada ser humano, ou seja, não apresenta analogia com a construção do desejo de nenhuma outra
pessoa.
Por falar em construção do desejo, como encaramos o nosso CORPO? Talvez tenhamos dificuldade até de nos conhecer "externamente", pois
ficamos ruborizados até com a nossa própria nudez. Não nos permitimos olhar estatura, formas, sinais e não aceitamos nem mesmo as rugas do
nosso rosto. Mesmo um bom espelho não nos ajuda muito a vermos como são nossas costas, o que faz-nos precisar ainda mais de um(a)
companheiro(a) que nos ajude a perceber-nos melhor, a partir de um outro ponto de vista. Um aviso para quem persistir em se perceber
apenas através de espelhos: cuidado com os espelhos manchados, quebrados, embaçados, ofuscados, eles podem distorcer demasiadamente
quem somos.
Esquecendo o mundo dos espelhos, voltamos à pergunta: COMO PERCEBEMOS O NOSSO CORPO?
Permitimos nos tocar, sentir a nossa pele, conhecer os limites do nosso corpo?
Creio que os LIMITES da NOSSA EXPERIÊNCIA definem os LIMITES do NOSSO CORPO e não foi por acaso que Nietzsche batizou o
corpo com o nome de "GRANDE RAZÃO", mas por oposição àquela razão pequena e acessória, que parece residir dentro da caixa craniana.
Como é nosso corpo, o que sente, como reage e o que expressa? Nós temos POSTURAS ou IMPOSTURAS (fingimentos, simulações,
falsidades, HIPOCRISIA...)?
No livro "A Linguagem dos Sentimentos" David Viscott diz, que "estar em contato com nossos sentimentos é a única maneira de nos tornarmos
abertos e livres, a única maneira pela qual poderemos SER O MELHOR DE NÓS MESMOS, sermos NÓS MESMOS. Encarar o mundo de
modo intelectual é diferente de "SENTI-LO", assim como estudar um país mediante um livro de geografia é diferente de viver nele. Os
SENTIMENTOS são a maneira como nos percebemos. São nossa reação ao mundo que nos circunda. São a maneira pela qual
PERCEBEMOS QUE ESTAMOS VIVOS".
Nosso corpo, muitas vezes, está preso em teias que regulam os nossos sentimentos e pensamentos, não nos permitindo realizar nenhuma
experiência de PRAZER. Ali, imobilizado, nosso eu adormece e morremos um pouco a cada dia. Só uma experiência de amor pode acordar o
nosso EU adormecido. Quantos beijos nos permitimos dar e receber, nos SENTINDO BEIJANDO e BEIJADOS?
Não abraçamos O QUE SOMOS, por isso nos é difícil abraçar o OUTRO.
Afinal, em QUE estamos NOS TORNANDO? Em números, produtores moldados pela ideologia dominante, úteis à sociedade, racionalizados,
insensíveis, sem intenções, sem disposições íntimas, sem paixões?
Não podemos ser definidos apenas pela função. É preciso libertarmos o SER APAIXONADO que existe em nós, pois somos vocacionados à
ARTE de AMAR.
Se continuarmos a distorcer nossa própria imagem, poderemos criar um QUEBRA-CABEÇAS que dificilmente será montado.
Enfim, a percepção que temos de nós mesmos está intimamente ligada à nossa PAIXÃO pela VIDA. E aqui, não queremos definir o que é a
vida, pois cada um de nós que a "vivemos", uns mais intensamente, outros indiferentemente, construímos os nossos próprios CONCEITOS ou
nos carregamos de PRECONCEITOS. Já dizia Camus que o único problema filosófico realmente sério é "julgar se a vida é DIGNA ou
não de ser vivida".
Bem-aventurados os apaixonados, pois eles herdarão o CORAÇÃO da TERRA e serão ETERNOS SEMEADORES da ESPERANÇA.
Somente atos de AMOR e PAIXÃO, são atos REVOLUCIONÁRIOS.
Somente os APAIXONADOS SABEM VIVER INTENSAMENTE, sabem o SENTIDO da VIDA e sentem o SABOR de PERCEBEREM e
EXPRESSAREM QUEM REALMENTE SÃO.
Jurandir Andrade
"Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas"
(GONZAGUINHA).

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